Algumas Reflexões sobre o Rugby Nacional

19/05/2015

Com a época 2014/15 prestes a findar, é altura dos clubes se pronunciarem sobre a actual situação do nosso rugby, e daquilo que pretendem para o futuro.

Vem o Técnico dar o pontapé de saída neste debate, não sem produzir algumas considerações sobre as tomadas de posição, bem como as omissões da actual direcção da F.P.R., cuja estrutura, altamente profissionalizada como nunca antes o foi, absorvendo verbas consideráveis para a dimensão do nosso rugby, poderia e deveria ter feito um trabalho de desenvolvimento da modalidade, após o “boom” que constituiu a presença no Campeonato do Mundo de 2007.

Ao invés do crescimento qualitativo que todos esperavam, também decorrente das promessas do seu Presidente, conseguiu precisamente o oposto, isto é, reduzir a competitividade a nível interno e das selecções nacionais, travar a regionalização e o desenvolvimento dos clubes líderes dos diversos pólos de rugby do país, e despromover a modalidade a todos os níveis.

E isto quando, após esse mundial, apareceram muito mais praticantes, e todos sabemos como é muito boa a qualidade dos jogadores portugueses, cuja potenciação, de forma adequada à realidade nacional, não tentando imitar modelos de países que nada têm a ver com a nossa realidade, antes implantando um modelo e estilo próprios, nos levaria a resultados extraordinários.

O nosso rugby, mesmo com verbas inferiores, tem de ter potencial para se bater, tanto a nível de clubes como de selecções, com países como a Espanha e todos os outros da Europa ocidental e central, excluindo os das ilhas britânicas, França e Itália, bem como competir pela vitória com os rivais dos últimos anos do leste europeu.

E, relativamente aos outros, onde o profissionalismo é muito avançado, temos de ter prestações dignas, tanto melhores nos escalões etários mais baixos, mas mesmo em seniores, como demonstrámos nesse mundial e, por variadas vezes, nos circuitos de sevens.

Mas, para isso, há que saber como, perceber que as selecções são o topo da pirâmide, que sem clubes fortes não há mais competitividade, ter uma política de competência e não de interesses.

Terá pouco interesse “inventar” novos clubes para obter votos, mas teria imenso interesse desenvolver muito mais o rugby nas regiões onde muitos “carolas” há muitos anos o implementaram.

E não deixar cair alguns dos tradicionais do nosso rugby, como tem vindo a acontecer, procurando ver as reais necessidades dos clubes, perceber como poderão ser ajudados para ser mais fortes, canalizando verbas para os clubes e não para projectos há muito inconsequentes, devidamente acompanhadas, permitindo reduzir distâncias físicas e adequadas ao número e valor dos praticantes.

Ouvimos há anos uns arautos dizer que há pouca competitividade, mas ainda haverá mais se se prosseguir na política actual, de diminuir o número de clubes fortes, permitindo que os melhores jogadores se desloquem, restringindo assim todas as hipóteses de competição.

Dizem esses mesmos arautos, numa brilhante constatação que há, claro, que reduzir o número de contendores nas principais divisões, talvez mesmo reduzir o principal campeonato, provavelmente voltar ao tempo em que todas as principais equipas jogavam no Estádio Universitário de Lisboa, porque, aí sim, haveria mais equilíbrio, melhores jogos e melhor selecção.

Quer dizer, em vez de se elevar o nível geral, por manifesta incompetência de perceber como, restringe-se a competição com algum nível aos actualmente melhores, aumentando o fosso entre esses e as outras equipas, contribuindo largamente para o descrédito da modalidade, e a sua redução aos primórdios da sua fundação.

É nossa opinião que o rugby só se desenvolverá com mais pólos fortes, aumentando os níveis dos já tradicionais do Norte, Centro e Sul, permitindo mais adeptos em todo o país, com uma cuidada promoção, a ser feita também pelo marketing da F.P.R., que nem as suas finais promove devidamente.

E, sem patrocinadores que encontrem retorno, sem pressionar as forças locais, tanto nas grandes cidades como nas localidades mais pequenas, a darem também o seu apoio, valendo-se do interesse que a modalidade desperta e valorizando a diferença, quer pelos valores do rugby, quer relativamente ao desporto profissional, não haverá crescimento.

A actual direcção da F.P.R., ao olhar exclusivamente para o seu umbigo, pensando que centralizar academias e selecções, em vez de visitar, apoiar e desenvolver as dos clubes, aconselhando e ajudando no necessário, principalmente no que diz respeito aos potenciais seleccionáveis, é uma boa política, engana-se redondamente, gasta verbas desmedidas não necessárias, e contribui para o esvaziamento dos clubes regionais dos seus melhores jogadores, para integrarem essa academia, tendo eles de procurar, ou sendo-lhes facilitados os clubes mais próximos, para poderem competir.

Além de que, na sua função mais directa, nas inscrições, marcações de jogos e demais organização, sistematicamente todos nos deparamos com a ineficiência da sua estrutura profissional, em contraponto com as estruturas amadoras dos clubes, que em nada são ajudadas, antes complicando quase tudo, nada se resolvendo de uma só vez, constituindo cada assunto um problema.

Não podemos deixar de falar da realidade do Técnico, que, de há dois anos a esta parte, ao apostar numa academia de formação de qualidade, assim como no reforço competitivo das suas equipas seniores, tem vindo a “sofrer na pele” por esse crime, e pelas justas críticas públicas do seu Presidente à política federativa, de cuja direcção já saíram quase todos os que pensavam pela sua própria cabeça.

Desde a alteração ilegal de regulamentos a meio da época para penalizar exclusivamente o Técnico, até à perda na secretaria de um jogo ganho, por utilização dos mesmos jogadores que utilizou toda a época, à não possibilidade de utilizar a sua equipa B em mais de metade de uma época, à impossibilidade de jogar em casa o playoff do título do ano passado, no castigo mais rápido do rugby português, no qual não nos lembramos de qualquer interdição, ainda por cima com a futilidade dos motivos alegados, à também ilegal impossibilidade, única no desporto nacional e internacional, de utilização livre de comunitários, entre outras, tudo tem tentado esta direcção para prejudicar o nosso clube.

Também não entramos em detalhe, embora o possamos fazer noutro fórum, com as inúmeras pressões e “queixinhas” do Presidente da F.P.R. aos “seus” órgãos de disciplina sobre as declarações do Presidente do Técnico, ao mesmo tempo que provoca que haja uma espécie de caixa de ressonância dessas “queixinhas” mesquinhas, para os próprios árbitros e assistentes, que aproveitam a forma de gestão interna da nossa equipa sénior para provocações várias que, ao serem respondidas, ocupam as preocupações do competente e prestimoso Conselho de Disciplina, que nunca redige nem apresenta uma acta assinada, mas parece ter sempre uma decisão pronta e rápida em nosso prejuízo.

Pode esse Conselho e o Presidente da F.P.R. estarem descansados que nunca nos verão fazer as figuras que todos observaram quando liderava o seu clube.

Será também por pressões deste tipo que as arbitragens se condicionam ao ponto de termos assistido a decisões incríveis que adulteraram o resultado da meia-final da Taça de Portugal, impedindo-nos de disputar a merecida final?

Mas também pode ter a certeza que não será através desses métodos que nos calará, e que a razão acabará por prevalecer.

A finalizar, não queremos deixar de frisar o modo como a direcção da F.P.R. trata os seus clubes, designadamente nas propostas sobre alterações e novos modelos competitivos.

No passado defeso, veio a F.P.R. solicitar propostas aos clubes sobre alterações que quisessem introduzir.

O nosso clube focou-se em quatro, a saber:

–  Supressão dos sub-21, depois sub-23, por manifesta falta de competitividade;

– Passagem do escalão de sub-18 a sub-19;

– Nomeação de três ex-jogadores com mais de cinco anos de seniores, para árbitros, por cada equipa da divisão de Honra;

–  Liberdade para qualquer equipa sénior inscrever segunda equipa no escalão imediatamente inferior ao que disputa.

Pois bem, apesar de o ter solicitado, não ligou nem submeteu estas propostas a qualquer discussão.

Esta época, modificou os estatutos para permitir a alteração dos regulamentos até 30 de Abril.

E que fez, em vez de aproveitar esse alargamento para discutir os assuntos importantes, veio, a três dias do final do prazo, em vésperas da final do campeonato, sem qualquer discussão, dar dois dias aos clubes para se pronunciarem sobre dois novos modelos. Um autêntico escândalo, se a repercussão do nosso rugby fosse a merecida, e não se limitasse a ser notícia quando surgem situações menos próprias, como a não aprovação de orçamentos ou “desvios” de verbas.

No aspecto da promoção do jogo em si, e dos principais eventos desportivos, é um zero absoluto, apesar dos esforços de alguns órgãos de comunicação para dar a conhecer a modalidade.

É por todas as razões expostas, e por ser este o “timing” certo, que convidamos os clubes a discutir o futuro do rugby nacional.”

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